O preconceito religioso, a
hipocrisia, o conservadorismo e o medo de setores da sociedade dificultam
enxergar a realidade na questão das drogas: uma expressiva maioria de mortes
(assassinatos) não decorre do consumo, mas do comércio. Outra questão grave: os
bilhões de dólares clandestinos movimentados pelo tráfico estão fortalecendo e
criando, cada vez mais, criminosos brutais com parcerias na política, na
justiça, na polícia, nos bancos e na produção. Cresce a influência na gestão de
unidades federativas. A proibição da venda de drogas impede identificar o
usuário, a quantidade consumida e o tratamento a ser aplicado. Outra questão
subjetiva, mas que existe: tudo que é proibido atrai mais. Finalmente a mais
cristalina, real e histórica contradição dessa política de repressão: na década
de 30, enquanto proibida (lei seca), a bebida alcoólica provocou crescente e
brutal violência na sociedade. Liberada cessou a violência. Para corrigir todas
essas distorções somente a liberação geral de todas as drogas que seriam vendidas em farmácias. Pouco ou nada vai
adiantar descriminalizar uma ou outra droga e só um lado, o consumo. Há,
argumentam alguns, vai aumentar o consumo. Mas como vai aumentar se o usuário e
o consumo atualmente encobrem-se no anonimato? A trajetória da droga ilícita
seguirá a mesma das drogas lícitas (tabaco e álcool): controle e prevenção. Aí
sim, com religião, psicólogo, remédio, etc.