3 de janeiro de 2021

UMA ESTRATÉGIA DE LUTA PARA 2021 E 2022

 O OVO DA SERPENTE

“Ovo da serpente” filme de Ingmar Bergman, de 1977, se passa em Berlim, novembro de 1923, representa acontecimentos econômicos e sociais que pavimentaram a plena ascensão do nazismo. Por analogia com a serpente, suas causas trazem mortes e destruições. A chocadeira ocorre com profunda depressão, crise econômica, inflação, alta taxa de desemprego, insegurança, instabilidade sócio-política-ética e moral. Essas distorções na Alemanha levaram ao conflito mundial de 1938 a 1945, com milhões de mortos, feridos e mutilados. O nazifascismo produz líder autoritário, propaganda enganosa, isola a massa do mundo real, conduz ao imaginário, explora o analfabetismo político (pessoas que não participam, não discutem, não falam, nem entendem e odeiam políticos e a política em geral, pois consideram todos corruptos e inimigos). Confiam e entregam todas as iniciativas e soluções a um líder autoritário, um “salvador da pátria”, um oportunista de ocasião. No Brasil esse quadro se agrava com milhares de mortos e infectados por uma pandemia estimulada por líder autoritário que ocupa presidência da República. Síntese: Os ingredientes para a serpente chocar seus ovos estão claramente colocados. Resta a oposição, dessa vez, agir e impedir que propague seu veneno, que infelizmente não aconteceu na Alemanha

O CONCEITO BOLSONARO. SEU SIGNIFICADO

No programa TV247 entrevista com Léo Ao Quadrado (acho que o nome é esse) abordou como a esquerda está enfrentando o fenômeno Bolsonaro. Na visão de Léo a esquerda está totalmente equivocada.  A esquerda perdeu o “time” na forma de comunicação e enfrentamento à Bolsonaro e tbm aos neoliberais porque insiste numa estratégia de argumento e discussão que se demonstra errada. Bolsonaro segue uma estratégia política que tem base e público. A mesma que elegeu Trump. É científica, se baseia na realidade e no sentimento de numeroso público dominado pela desinformação, alienação, individualismo extremado, antipolitica cultivada, revolta com a situação pessoal, que condena arbitrariamente a política, o político em geral por desmandos e corrupção. São os famigerados analfabetos políticos sem noção exata de quem é corrupto, onde começa, quem promove, por que e qual o sentido dessas campanhas moralistas. Esse público é racista, machista, absolutamente impregnado pelo ódio, por tudo que sofre, mal informado, sem entender. Esse público, sem transparência e visualização, ganhou espaço e voz com as novas tecnologias. Megas redes e plataformas digitais capturaram os dados, perfis, que foram parar nas mãos da extrema-direita. Aconteceu na eleição de Trump (EUA), derrotado por um acidente de percurso (inédita e histórica participação do eleitor). Contavam, como de fato ocorreu, com crescimento eleitoral e a judicialização e pressão política dos Republicanos no frágil, desmoralizado e arcaico sistema eleitoral norte-americano. No Brasil, o PT, a esquerda precisa refletir esse fenômeno internacional, priorizar ações estabelecendo metas para 2022 (eleição que pode nos devolver a esperança). Como enfrentar o fenômeno, estratégia que dá suporte a Bolsonaro (a mesma de Trump) e tudo que representa, envolvendo corporações do capital, empresas multinacionais e nacionais, com suas contradições nesse quadro (uns ganhando outros perdendo). Empresário produtivo nacional voltado para o mercado, sem emprego e renda, vai fechar. Empresário exportador incomodado com as provocações bolsonaristas à China, nosso maior mercado consumidor. O mercado financeiro, as novas tecnologias, a bolsa de valores (especulador e investidor de papéis) aparentemente ganhando com a pandemia, que os favorece, na compra pela internet e no endividamento do Estado e contribuinte, com o crescimento da dívida pública ao adquirir título desvalorizados e ganhar na venda. Na passagem do ano de 2020, Ernesto Araújo e Bolsonaro, deram a “dica” dos inimigos bolsonaristas, listando 13, são eles: 1) grande mídia, 2) narco-socialismo, 3) corrupção, 4) bandidagem em geral, 5) sistema intelectual politicamente correto, 6) climatismo, 7) racialismo, 8) covidismo, 9) terrorismo, 10) multilateralismo antinacional, 11) abortismo, 12) ideologia de gênero, 13) trans-humanismo. Importante frisar que em qualquer desses campos de discussão a esquerda ao tentar aprofundar o debate vai perder tempo (que não dispõe) e uma tarefa complexa, pois seu gado está fechado, desinformado, impregnado de ódio e temos prazo, 2022. Não se trata de fugir do debate, mas estratégia para conquistar ou reduzir parte de seu rebanho. Aborto, por exemplo, é uma discussão complexa, carregada de preconceito, impregnada na maioria religiosa da população. Veja no discurso dos bolsonaristas sua complexidade nesse tema, após a descriminalização do aborto na Argentina: Damares “Agradeço a Deus por nosso país ser majoritariamente pró-vida”, Ernesto Araújo “O Brasil permanecerá na vanguarda do direito à vida e na defesa dos indefesos, não importa quantos países legalizem a barbárie do aborto indiscriminado”, Bolsonaro “No que depender de mim e do meu governo, o aborto jamais será aprovado em nosso solo”. Levar essa ou outra discussão para um público preconceituoso, conservador, religioso é desgastante, toma tempo e resultado eleitoral pífio. Nosso público, eleitorado, ativista, militante, está a favor do aborto e outras iniciativas liberalizantes.  A estratégia do PT, esquerda, oposição é mudar o eixo dessa discussão, ir para outro campo que eles não tem como responder, não dominam, não enganam (evitar os treze citados por Ernesto Araújo). Tocar onde todos estão sendo atingidos, na barriga: a economia, falta de renda, fome, falta de ocupação. Esse campo de argumento tbm atinge empresário, pois sem mercado de consumo, sem emprego e se atritando com a China vão à bancarrota. Não precisa citar Lula. Não precisa xingar Bolsonaro. Vão concluir, lembrar que no governo Lula o mercado cresceu, com emprego e renda. O Brasil chegou a 6ª potência mundial e está na 12ª posição. A importância da Petrobras, do pré-sal não é para quem tem carro na gasolina, mas na energia presente no custo de vida, na inflação, nos alimentos. Os mais intelectualizados e informados da classe média distantes desse rebanho bolsonarista pode chegar à militantes próximos, formadores de opinião e repassar os argumentos estratégicos. Bolsonaro é um mentiroso contumaz, nunca foi evangélico, a esposa abortou, corrupto, ligado ao crime organizado, antidemocrático, terrorista, torturador, mas mantém um rebanho desinformado e do ódio. A esquerda precisa fazer teste de paciência revolucionária, enfrentar a estupidez descolada da realidade por fake news e internet. Discutir costumes tem mais complexidade, renda e emprego não. Cada militante do PT e da esquerda se torna enfermeiro, aplica a vacina contra o vírus do fake news, ajuda na reflexão, na inteligência, imuniza. Esquerda e PT cometeram e vão continuar cometendo equívocos, mas terá sempre de superar, tirar lições, corrigir. Esquerda é a única esperança de mudanças para o país e o povo. Tirar lição do passado onde Getúlio se suicidou, Jango se exilou, mas PT e Lula resistiram, não recuaram frente ao inimigo. O PT não é PTB, é mais forte e organizado. Portanto, houve avanço. A esquerda, principalmente o petista, precisa fazer rápida reciclagem, recuperar energia, mudar, confundir o inimigo com tática e estratégia nova. Jamais subestimar o inimigo, conhece-lo bem, não perder o foco. Bolsonaro tem suporte de uma inteligência cientifica e tecnológica, repete o que mandam. Em 2022, está prevista uma batalha, é preciso se preparar desde já, levar o inimigo para o terreno propício de guerra, onde está exposto. No debate sobre aborto e outros de costumes evitar a armadilha. Certa inverdade é mais difícil e demorada de reverter, falam de tirar a vida, desinformam os ausentes da realidade. A esquerda e oposição precisa chegar no terreno inimigo com paciência, política e diplomacia. Questionar onde não há resposta: emprego, renda, alimentação, saúde, violência, educação, moradia, leis sociais, trabalhistas e aposentadoria retiradas. Nesse campo o PT e Lula no poder “bombaram”. Simples assim. O discurso do ódio está colocado e é explorado por Bolsonaro (não é ele, mas importado), seu rebanho foi cientificamente selecionado. Esse sentimento de ódio impede, trava a compreensão. Até a vacina causa atrito, mas a realidade vai se impor. Sintetizando: discutir e refletir sobre o mais óbvio. Antonio Negrão de Sá